[.LINKS:.] [..PROJETO..]  [..REPORTAGEM..]  [..FOTOGRAFIA..]

Charge do seu Amélio

O famigerado Baltazar


Revisando meu comportamento encontrei padrões que denunciavam o vício. Algo que eu quero todos os dias e certamente é capaz de melhorar meu mau-humor. Minha droga é o Raio UHV. Alguns precisam de cigarro pra trabalhar, outros de cocaína pra se divertir. A minha é o sol. Uso sempre que posso, na rua, no trabalho ou em casa.

Pega leve, você pode dizer. Cara, eu sei que demais faz mal, mas poxa! Eu moro em Curitiba. Pegar algum UHV de qualidade nem sempre é fácil. Os catarinas que estão aqui pertinho conseguem bem mais sol que a gente. E no Nordestão? Eu não, mas ouvi dizer que lá rola quase todo dia, e também que algumas pessoas não vão trabalhar quando chove.

Quando falta UHV, a gente fala dele. No trabalho: "Cara, eu sei que tava precisando chover, mas pegar latão nesse tempo..." Em casa: "Amor, depois você arma o varalzinho na sala. Tá precisando sair um sol pra secar essa roupa".

Um amigo, outro viciado confesso em raios de sol, bom, ele tem uma teoria bastante peculiar para a falta de UHV em Curitiba. Seria tudo fruto de uma intriga, com trama complicada e conspirações.

Quando decidiu fixar raiz e escolheu as margens do Atuba como morada, Ébano Pereira trouxe seus bons amigos Baltazar Carrasco dos Reis e Mateus Leme. Iniciaram o povoado que hoje é a metrópole de 75 bairros e 2 milhões de pessoas e uma complexa teia social.

Naqueles tempos simples, em que todos se conheciam, Ébano Pereira, Baltazar Carrasco dos Reis e Mateus Leme desfrutavam de grande prestígio. Eram então os grandes senhores do povoado. A intriga teria começado mais ou menos na mesma época que Mateus Leme assumiu a direção do vilarejo.

Como fundador, Ébano gozava de um prestígio quase mítico. Estar em sua presença, para os colonos, era estar em companhia de um visionário, um pioneiro bravo e corajoso. Mateus Leme ia bem como administrador. Ciumento da posição dos amigos, Baltazar teria os amaldiçoado, enterrando sob o marco zero uma cabeça de bode.

Bom, quanto a mim... Eu só acho que meu amigo anda tomando sol demais.

Fandango do Akdov

Banner

Contra-luz

Man-Machine


flyer

terrorismo verde


We gonna rule the world!
don't you know? don't you know?



TIM MAIA RACIONAL

Copy? right!

Baiano e os Novos Caetanos

Então, testando som, 1, 2, 3. Tsc. Tsc. .

Velho Ilídio


Nas horas que precederam sua travessia, o céu despencou e o mar cresceu. Pescador experimentado pela vida, Ilídio enfrentou a chuva, o vento e as ondas para seguir seu destino. Deixou para trás sua grande companheira, dona Rosa. Mas o velho seguiu em paz. Assim que se seu corpo repousou sob os lençóis, céu e mar se acalmaram.

Carlinhos, o filho querido, é quem conta. Como por encanto, pouco antes do velho passar a chuva parou e estrelas lotaram o céu sobre o rancho. O cunhado, Ita, que fora à vila avisar o pessoal que o velho estava partindo, enfrentou a tempestade durante todo o caminho de volta. Veio pela praia, maré alta, puxava um carreto, caso precisasse trazer Ilídio.

Pois foi justamente ele, Ita, quem ouviu as últimas palavras do homem. Nem Carlinhos, nem dona Rosa sabem o que Ilídio lhe disse, mas certamente foi algo grave, como era próprio do homem. Ita andou uns tempos meio abatido. Trouxe dona Rosa e Carlinhos consigo para ficar na vila, mas para quem cresceu na Praia Deserta, difícil se adaptar.

Carlinhos e dona Rosa voltaram para o rancho. Não o velho rancho onde Ilídio viveu a maior parte de sua vida, mas para a casa grande, que há tempos estava pronta no Sítio da Pedra Branca – mas quem é que conseguia convencer seu Ilídio de se mudar. O velho tinha o maior orgulho da casa que construiu com as próprias mãos para a família.

Ilídio me disse uma vez que juntou todas aquelas tábuas na beira da praia, num tempo que acostava muita madeira boa, pedaços de embarcação. Não como hoje, que acosta plástico e lixo. Eu gosto de lembrar disso. Da velha casa, resta apenas a cozinha. Um lugar especial, onde muitos de nós gastaram tardes inteiras de prosa com o velho.

Fomos privilegiados. Conhecemos um homem simples e profundo, sábio e sonhador, um devorador de livros, sem dúvida, mas para mim, acima de tudo, autor de uma crítica sócio-ambiental crua e certeira. Conhecê-lo foi decisivo para que minha preocupação com meio-ambiente passasse à prática – menos slogans, mas ação.

Sei que outros que estão aqui também foram tocados pela filosofia de vida do seu Ilídio. O He-man participou da intera que colocou o fogão à gás na casa, o mesmo que está lá até hoje e já fez muito arroz com feijão para o povo. Não é não Rita? Diz o Carlinhos que uma vez o He-man fez até uma caixa de compostagem, para o lixo orgânico da família.

Sinto falta do velho. Seu Ilídio era um sujeito maneiro. Demorou um pouco para cair a ficha, de bater a tristeza. Tenho algumas horas de fita gravada com ele, conversas solta à beira da mesa. Um cigarrinho entre os dedos, café de dona rosa no copo. Hoje, quando escuto, bate uma saudade. Que histórias ficarão? Quem sabe aquela da velha Rural Willys?

Hoje, para mim, visitar o Sítio da Pedra Branca é como ir à Igreja. Santo Ilídio, que resistiu como pode ao capitalismo, que colocou a mim e outros no caminho dos verdes. Lá de cima, protegei todos os que prezam pelo mundo e pelos outros seres humanos. Viva e deixe viver.

Escola? Pra que se há BBB???


“A escola nos moldes de hoje é o braço desarmado do regime hipócrita em que vivemos”- Paulo Venturelli, professor da UFPR.